2- Uma crônica sobre o tempo mecânico

28/06/2010 13:48

 

Tempo é dinheiro, sem dúvida, nos tempos atuais é a “lógica” da “história”. Cronos está perdido por entre as pernas do poder consumista. Sua foice não trabalha mais: completamente cega. O tempo dos sinos resistirá até quando? Os usuários roubavam o tempo da Providência na Baixa Idade Média... Hoje se ganha ou se rouba tempo o tempo inteiro.Nos campos, a vagarosidade; nas cidades, a velocidade. A velocidade não é ruim. O problema é o ritmo implantado nos seres bípedes deste planetinha geóide e poluído. Uma velocidade que ultrapassa o Flash e o Sonic juntos. Até Schumaker fica para trás. A velocidade da produção acelera a economia, mas estagna o ser.O tempo da natureza foi domado gradualmente; foi domesticado; mecanizado, robotizado, alienado, animalizado. O tempo lento das estações foram amortecidos brutalmente pelo “progresso” que não passa de um mito pós-modernista. Ainda caímos nessa fantasia de um “progresso para todos”? Somos tão ingênuos... Ingênuos são os fragmentos positivistas que ainda saem de suas tumbas do século XIX e são alimentados por novas-velhas teleologias... Um “destino” com início, meio e fim...Marx explanou que “o tempo é o campo do desenvolvimento humano.” Obviamente, alusão ao tempo histórico; enquanto Nietzsche comentou algo sobre a medição do tempo maquinal:

 “A partir de hoje penduro

Ao pescoço o relógio que marca as horas:

A partir de hoje cessam seus curso as estrelas,

O sol, o canto do galo, as sombras;

E tudo aquilo que o tempo jamais anunciou

Está agora mudo, surdo e cego:

– Para mim toda a natureza se cala

Ao tique-taque da lei e da hora.”

(A Gaia Ciência, Prelúdio:48)

 O tempo do relógio nos controla. Afinal, existe tempo para tudo; o homem inventou esse deus artificial, mas é esta deidade com seus ponteiros de ferro (ou números digitais), é que domina. O criador (o homem em si) criou uma cria que o domina. Até quando? Estamos flutuando, transitando como insetóides em meio aos numerais romanos ou cardinais, ante meridiem e post meridiem.

“[...]. Estamos cada vez mais em trânsito, como carros, somos celulares, somos circuitos sem pausa, e cada vez mais nossa identidade vai sendo programada. O tempo é uma invenção da produção.

Não há tempo para os bichos. Se quisermos manhã, dia e noite, temos de ir morar no mato.” (Arnaldo Jabor, Amor é prosa, sexo é poesia, Nossos dias...).

 Somos programados e reprogramados pelo sistema, e se alguém “chiar”, corre o grande risco de ser tachado como um subversivo do século XXI que vai corroer as bases, um revolucionário! Criamos o tempo e sujeito a ele nos encontramos. Os números são os sádicos, nos somos os masoquistas.