4- Sobre o amor multifacetado

09/07/2010 14:40

 

É complicado falar de amor, tão difícil quanto falar da obsessão imperialista que é imposta diariamente sobre o mundinho dito globalizado.

Mas, voltemos ao amor...

Viajando direto aos antigos gregos lá temos teremos a “invenção do amor”, ou dos “amores”, ou de uma interpretação ocidental dos sentimentos que giram pelos homens e pelas mulheres. Temos o Eros de uma das teogonias gregas. Amores homossexuais entre deuses e mortais; Zeus se metamorfoseando ora em touro, ora em cisne para copular com as ninfas do momento. Amor omnibus idem, ou, “o amor é o mesmo para todos”, afirmou Virgílio. Será? Também temos o outro Eros, tão ilustrado pelos “pedófilos” da Renascença, um anjinho pelado com o pinto de fora.

Orgias mil. Natureza, sátiros, ninfas, uma alegria exalando um amor sexual, do corpo. Um amor dionisíaco (Nietzsche o sabia muitíssimo bem...). Apolo endureceu o amor, ficou mais, “amável”, mais, socrático... Alguém grita, com esperança: “mas o amor verdadeiro é aquele não-carnal, aqueles dos sentimentos!” O amor é uma construção social, assim como o próprio homem. O homem não foi forjado pelo raio, trovão e o relâmpago de uma divindade coxa e grotesca: o homem forjou-se a si próprio de acordo com o tempo em que ele viveu, vive e viverá. Esse homem que ama, também odeia. Ele cria e também destrói. Nenhum deus, deusas, Deus e suas variantes, conseguem manter uma coleira nos homens, oras... O tesão ultrapassa qualquer deidade por que é humano.

É um dos vícios da sociedade pós-moderna (e bem antes dela também...): naturalizar o homem. Amor-carnal também tem sentimentos (e duplo sentido...). Não nos esqueçamos do amor-platônico, idealista, aquele que não foi correspondido, sincero, mas, inatingível. O amor que nunca conseguirá ser unido como siameses... Também tem amores noutras culturas, muito além do ocidente (e como estou escrevendo uma crônica e não um ensaio científico, portanto, voltemos a viajar); voltemos aos “chutômetros” da subjetividade!

O amor por uma loira, por uma morena, por uma gostosa de corpinho violão, por uma menina de olhos verdes ou azuis como uma turquesa. Quantos amores externos com relação ao gênero feminino? Amores de exploração visual. Ou paixões? O amor é uma paixão, e sei que a maioria dos leitores irá discordar disso, tudo bem, à vontade! Como diria Voltaire: “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo.” O amor é uma espécie de paixão menor, já que todo sentimento é uma forma de paixão, é o amor é um sentimento maior.

O amor é uma paixão ao quadrado, ou elevada ao cubo...

E aquele tão falado (mas pouco, praticado?) amor intenso, ou ainda, eterno? Aquele que faz você ficar com cara de bobo, flutuar, desligar-se por alguns momentos do mundo cruel? Esse tipo de amor é tão raro quanto às ovelhas vermelhas encontradas por Cândido.

“Como os relâmpagos, o amor nos liga entre a Terra e o Céu.” (Arnaldo Jabor, Amor é prosa, sexo é poesia). Nós, “machões” damos uma de Urano, caindo sobre a Gaia “indefesa”. Porém, a inversão já ocorre há um bom tempo, deveras...

O amor agora não é a mais um, ou dois, ele é múltiplo...