3- As vacas driblaram os nossos craques...

02/07/2010 15:10

Perdemos a Copa do Mundo de 2010 para a Holanda. Perdemos para o país conhecido mundialmente por suas vaquinhas holandesas (e não esqueçamos também de sua capital erótica, Amsterdã). Fizemos um, levamos dois. O país do futebol perdeu para o país das vacas. Toda a cobrança em cima de Dunga e de seus meninos, agora vai ser uma chuva de ataques nervosos. O brasileiro não sabe perder; não sabemos perder. E agora? Agora o sentimento de “Nação” volta ao de Estado.

As vuvuzelas e a jabulani saem de foco; agora, voltaremos os olhos para outras coisas: tragédias brasileiras, tais como o crime organizado e a corrupção na política. Pronto, voltamos a nossa “programação normal”. Quatro anos de ressaca “coletiva”. As bandeiras nos carros, nas sacadas das janelas, verde e amarelo por tudo, agora, já era...

O historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior comenta o seguinte sobre o futebol:

“Talvez pela forma como a festa [no caso do carnaval] e o jogo foram comumente pensados na cultura ocidental, ou seja, sendo momentos à parte da vida cotidiana, atividades sem finalidade, improdutivas, opostas à realidade, à seriedade da ordem social; sendo momentos de atividade voluntária, livre e desinteressada, fruto de atitudes gratuitas, que constituiriam momentos, tempos e espaços apartados da rotina, fruto de situações ideais, situações artificiais, que não representariam o funcionamento das estruturas normais e fundamentais que dariam sustentação a uma determinada sociedade. A festa e o jogo, portanto, não fariam parte das estruturas nucleares e essenciais de uma dada cultura ou de um dado sistema social; sendo práticas consideradas de divertimento, de alienação ou de inversão da vida social regular.” (A arte de inventar o passado, Edusc, p. 165).

O futebol faz parte da cultura nacional, embora não interfira de fato em nenhum mecanismo que altere as estruturas sociais de nosso país. É uma forma de alienação que diverte; uma manifestação popular que não é folclórica. Isso é o futebol.

Muitas vezes valorizam-se demais os jogos e deixa-se de lado o Brasil em si... As quartas-feiras tornam-se “sagradas”; sem contar o fanatismo que muitos têm pelo futebol em si...

Comentarão por semanas o porquê perdemos. O porquê de a seleção ter perdido... O Brasil praticamente congela a cada quatro anos para ver seus “guerreiros” no campo de batalha. As escolas, colégios, faculdades, universidades, enfim, qualquer instituição de ensino, libera seus estudantes mais cedo para que possam assistir (ou não) ao jogo do Brasil; o mesmo para o comércio em geral, e para as indústrias. Uma TV sempre por perto... A cada quatro anos tem-se um sentimento de “Nação”.

Como afirmou Renato Russo o “nosso estado que não é nação...”. Deveras. Como se “Nação” fosse unicamente unir-se para assistir a um jogo dos canarinhos de quatro em quatro anos... O hino é uma metáfora que nos une, associada ao slogan positivista que consta na flâmula quadricolor, da Republica Federativa do Brasil. O Brasil é misto e regionalista, com diversas etnias e culturas. Uma identidade por causa de uma bola?

Tomamos leite em 2010; em 2014, veremos no que vai dar...